segunda-feira, 29 de dezembro de 2008


DA SOLIDÃO
Depois disto Zaratustra tornou para a montanha e para a solidão de sua caverna, apartando-se dos homens. E esperou, como o semeador que lançou a sua semente; mas a alma, se lhe encheu de impaciência e desejo do que amava. (...)

O meu impaciente amor transborda em torrentes, precipitando-se desde o oriente até o ocaso. Até minha alma se agita nos vales, abandonando os montes silenciosos e as tempestades da dor.Demasiado tempo sofri e estive em perspectiva. Demasiado tempo me possuiu a solidão. Agora esqueci o silêncio. Todo eu me tornei qual boca e murmúrio de um rio que salta de elevadas penhas: quero precipitar as minhas palavras nos vales. Corre o rio do meu amor para o insuperável! Como não encontraria um rio enfim o caminho do mar? Sem dúvida há um lago em mim, um lago solitário que se basta a si mesmo; mas o meu rio de amor arrasta-o consigo para o mar.
Eu sigo novas sendas e encontro uma linguagem nova; à semelhança de todos os criadores, cansei-me das línguas antigas. O meu espírito já não quer correr com solas gastas. Toda a linguagem me torna moroso. Salto para o teu carro, tempestade! E a ti também quero fustigar com a minha malícia!

Assim falava Zaratustra.
Friedrich Nietzsche

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