Talvez me suceda em mim mesmo.
Não sei quem mas alguém morreu em mim.
Também ontem pressentia a desaparição e estava ameaçado pela luz, mas hoje é outra a faca diante dos meus olhos.
Não quero ser o meu próprio estranho, estou entorpecido pelas visões.
É difícil por todos os dias luz nas veias e trabalhar na retracção de rostos desconhecidos até que se convertam em rostos amados e depois chorar porque vou abandoná-los ou porque eles me vão abandonar.
Que estupidez ter medo à beira da falsidade, que cansaço abandonar a inexistência e morrer depois todos os dias.
Antonio Gamoneda, in "ardem as perdas" quasi (2004)
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