quarta-feira, 5 de setembro de 2007


Talvez me suceda em mim mesmo.

Não sei quem mas alguém morreu em mim.

Também ontem pressentia a desaparição e estava ameaçado pela luz, mas hoje é outra a faca diante dos meus olhos.

Não quero ser o meu próprio estranho, estou entorpecido pelas visões.

É difícil por todos os dias luz nas veias e trabalhar na retracção de rostos desconhecidos até que se convertam em rostos amados e depois chorar porque vou abandoná-los ou porque eles me vão abandonar.

Que estupidez ter medo à beira da falsidade, que cansaço abandonar a inexistência e morrer depois todos os dias.


Antonio Gamoneda, in "ardem as perdas" quasi (2004)

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