quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

13 de Maio

Perguntas-me se quero que me mandes os meus
livros. Pelo amor de Deus, meu amigo, nem penses
nisso! Não quero ter comigo esses perigosos estimu-
lantes, que inflamam, que irritam o coração e o meu
já está demasiadamente exaltado. Careço apenas de
doces cânticos que me embalem e o meu Homero dá-
-mos generosamente. Quantas vezes nele tenho en-
contrado refrigério ao ardor do meu sangue! Porque
tu ainda não viste, estou certo, nada mais volúvel
nem mais irregular do que o meu temperamento
Acaso será preciso dizer-to, a ti, o meu bom
amigo, a quem tantas vezes fatiguei com os meus
modos bruscos, passando subitamente de um acesso
de desprezo a uma louca alegria e do abatimento me-
lancólico à tempestade do furor? Trato o coração
como se trata uma criança doente, satisfazendo-lhe
todos os caprichos.
Mas não o digas a pessoa alguma: quem o sou-
besse veria no meu procedimento um crime.

WERTHER
Goethe

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