Rostos gelados
Hoje não há poemas em mim. Hoje
há tábuas duras a raspar-me
a genica para dentro do poço.
Há uma súplica.
Não me posso confessar.
Encontro-me numa estrema circular.
Receio tombar. A diferença
entre um poema e um rosto
gelado é o meu abismo. E eu
fico aqui parado como se pudera
parar. Talvez eu nunca tenha
existido antes da dor. Digo
lenga-lengas que escondo
nesta coisa de proporção infernal.
Sem fugir das perguntas,
mudo-me na verdade. Hoje
é o dia seguinte
e volto a existir. Engasgo
esta fraqueza com músculos duros
e ponho um pé à frente
do outro pé nesta sequência
descuidadamente atenta. Distrair
a mente é o recurso após a escrita
desta mágoa.
e vou ao encontro imediato
da íntima distracção
num fôlego.
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