Tenho pedras no bolso.
Muitas pedras no bolso.
Troco duas pedras por uma máquina de pensar.
Quando penso dói-me a cabeça.
Daí as pedras.
Tenho 5 pedras porque penso mal 5 vezes.
Tenho 5 pedras nos bolsos.
Quero viajar.
Quero viajar.
Mas para viajar é necessário ser leve.
As pedras são pesadas.
Não consigo viajar com tantas pedras.
Tenho tantas pedras dentro da cabeça, dentro do crânio.
Total: 5.
Daí o meu peso.
Impossível viajar com tanto peso.
Quero comprar uma máquina que pense por mim.
Quero comprar uma máquina que pense por mim.
Tenho o livro de um filósofo.
Tenho 2 livros de um filósofo.
Um livro é uma máquina que pensa por mim e é uma máquina barata.
Mas eu não quero que pensem por mim sempre da mesma maneira.
O mesmo livro pensa sempre da mesma maneira.
Se eu fechar o livro, calo-me, e as pedras pesam-me mais no crânio.
Se eu abrir o livro começo a falar, mas digo sempre a mesma coisa.
Alguém me disse que um livro de poesia é diferente.
Alguém me disse que um livro de poesia é diferente.
É uma máquina muito mais rápida.
A cada vez que passa, passa de outra maneira.
Deve ter pés estranhos.
Pés adaptáveis à terraou então capazes de a dominar.
De resto nunca li um livro de poesia.
Sou demasiado homem para isso.
Sou demasiado contemporâneo: trabalho muito.
Ler poesia para quê?
Eu trabalho muito, sou contemporâneo.
Ler poesia para quê?
Gonçalo M. Tavares em O homem ou é tonto ou é mulher (Campo das Letras, 2002)
2 comentários:
Hoje agarro numa pedrinha por ti, já só ficam 4:P Boa noite da Mola:)
Obrigado, simpática(o) "Mola"
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